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Pesticida deixa “formigas Genghis Khan” ainda mais agressivas

A formiga Monomorium antarcticum, nativa da Nova Zelândia, vem sendo atacada pelas ferozes formigas-argentinas (Linepithema humile, foto), crescentemente agressivas graças a um inseticida comum, sugerem os pesquisadores. Foto: George Novak

A formiga Monomorium antarcticum, nativa da Nova Zelândia, vem sendo atacada pelas ferozes formigas-argentinas (Linepithema humile, foto), crescentemente agressivas graças a um inseticida comum, sugerem os pesquisadores. Foto: George Novak

Os inseticidas à base de neonicotinoides têm uma má reputação por seus efeitos involuntários e potencialmente perversos sobre os insetos polinizadores, como as abelhas. Agora, um estudo realizado na Nova Zelândia mostra que o agente químico também pode modificar o modo como interagem espécies de formigas nativas e invasoras.

A Nova Zelândia enfrenta uma invasão de formigas-argentinas (Linepithema humile), que competem com as nativas Monomorium antarcticum. Os insetos geralmente se encontram em áreas urbanas ou agrícolas nas quais os neonicotinoides são utilizados. Então, o biólogo Rafael Barbieri e os professores Phil Lester e Ken Ryan, da Universidade Victoria de Wellington, passaram a investigar se as mudanças comportamentais que têm sido associadas à exposição sub-letal aos neonicotinoides afetam a interação entre estas duas espécies.

“Quaisquer alterações no comportamento poderiam potencialmente afetar a estrutura de toda a comunidade”, diz Barbieri.

Como descreve a dissertação publicada no Proceedings of the Royal Society B, Barbieri expôs as formigas a doses extremamente pequenas de um neonicotinoide comum e examinou como o comportamento de cada espécie é afetado. Não foram observados efeitos sobre o comportamento da busca por alimento ou sobre a capacidade de sobrevivência de cada espécie isolada, apesar de o tamanho da prole da formiga-argentina ter sido cortado pela metade. Os verdadeiros efeitos do composto químico foram percebidos quando as espécies se encontraram.

Quando a formiga nativa foi exposta às neurotoxinas, ele se tornou bem menos agressiva em relação à invasora, o que aumentou a probabilidade de sobrevivência da formiga-argentina e poderia ajudá-la a se propagar. No entanto, quando foi a vez de as invasoras serem expostas ao inseticida, estas se tornaram muito mais agressivas em relação às nativas que não haviam sido expostas — tão agressivas que, de fato, arriscaram suas próprias vidas para atacar. Como resultado, as formigas nativas não expostas foram capazes de erradicar completamente as invasoras expostas.

O Professor Lester compara: “A formiga-argentina é conhecida, ao redor do mundo, como uma invasora extremamente agressiva. (…) Temos aqui o Gengis Khan do mundo das formigas se tornando ainda mais agressivo depois da exposição a esses pesticidas”.

Combinados, os resultados fazem com que seja difícil prever se/como os neonicotinoides vão impulsionar a invasão da Linepithema humile, diz Scott Black, diretor executivo da Sociedade Xerces para a Conservação de Invertebrados em Portland, Estados Unidos. Apesar disso, este é mais um exemplo de como níveis baixos de inseticidas podem alterar o comportamento de diversos tipos de insetos. “Esta acrescenta a literatura que levanta preocupações quanto ao crescente uso excessivo desses inseticidas”, segundo Black, que afirma necessitarmos descobrir onde e como aplicá-los com segurança.

Assim como Black, Barbieri argumenta que o principal problema, não só com este gênero de pesticidas, mas com todos, é o que ele chama de “uso imprudente”, mas ele sugere que o composto químico possa ser utilizado para combater a invasão das formigas-argentinas. Pelos fatos de reduzirem o tamanho da prole das invasoras expostas e tornarem-nas mais suscetíveis à erradicação por parte das formigas nativas não expostas, os neonicotinoides, usados com sensatez, podem ser uma maneira eficaz de controlar a propagação da L. humile.

“Não há dúvidas de que os neonicotinoides são fantásticos no controle de pestes”, diz Barbieri, “[m]as devemos ser mais cuidadosos com o modo como os usamos na natureza”.

Estes inseticidas são os mais empregados no mundo e têm sido ligados ao desaparecimento gradual de abelhas e outros polinizadores. O composto geralmente age sobre a semente e se espalha pela planta conforme ela cresce, afetando os insetos que a comem. A Comissão Europeia recentemente impôs restrições ao uso de neonicotinoides válidas por dois anos.

Fontes: Nature, Phys.org

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This entry was posted on 23 de Outubro de 2013 by in Meio ambiente and tagged , , , , , .

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